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Salvador - Bahia - Brasil

Surf Forever

Kleber Batinga

Matéria em homenagem aos surfers da Bahia que estão completando 60 e ainda na ativa

Na primeira vez em que pisei os meus pés em território havaiano, no inicio da década de 80, percebi alguns fatos que, por conta das diferenças culturais e tradições, chamaram muito a minha atenção.

Passei por Waimea, o lugar mais bonito e desejado por mim. Como o voo chegava no fim da tarde, só consegui ver, do fundo da truck do meu amigo Lapo que foi nos buscar no aeroporto, na penumbra a bonita baía, emoldurada pelas montanhas e seu contorno de pedras.

Para mim, eram importantes a tradição e a majestade daquele lugar incrivelmente belo. Naquela época o anfiteatro supremo do big surf mundial.

Não havia aparecido, até então, para a mídia nenhum outro pico de ondas grandes, com exceção de Makaha, os outsides reefs do North Shore, Kaena Point, Pico Alto e Todos Santos, que acima dos 30, 40 pés ficavam insurfáveis aquela época, ou o Unridden Realm.

Outro fator muito importante era o respeito pelo mar e pelas ondas. Se o cara desse mole dentro d´água e fosse “queixão”, como a gente falava na época, apanhava mesmo. Valia a máxima: respeite para ser respeitado.

Além disso, certa vez estava em Sunset Beach e o mar estava subindo muito rápido. Naquela época não havia internet, o dia tinha amanhecido com meio metrinho de onda, mas já tínhamos de 3 a 4 metros de onda.

A maior parte da galera estava indo para a cidade e vi chegar um coroa que devia ter naquela época por volta de 55 anos.

Ele tirou a sua prancha enorme, sem cordinha, de dentro do carro e apesar de a essa altura o mar já estar enorme, beirando os 5 a 6 metros, se atirou na água e foi direto para o outside. O nome dele: Peter Cole, que até hoje, aos 82 anos, surfa em Sunset com 3 a 4 metros com a sua prancha grande amarela, sem cordinha, e com sua velha T-shirt branca.

Nesse mesmo mar de 5 a 6 metros, em Sunset, vi Phylis Dameron, uma bodyboarder francesa que, assim como Peter Cole, surfava Waimea e botava pra baixo.

Ano passado, em Waimea e Sunset, vi coroas na faixa dos 50 aos 60 anos com gunzeiras de 10 pés; garotas, inclusive japonesas kamikazes, saindo do mar com pranchas partidas ao meio só para fazer uma foto, e garotos, também novos, com pranchas pequenas e já dentro d´água no maior gás.

Eu que, quando nos meus 20 e poucos anos achava que aos 30 não estaria mais surfando, quebrei todos os meus paradigmas e hoje aos 59 anos de idade continuo na ativa, correndo campeonatos com a mesma garra de sempre, remando em SUP´s e Canoas Havaianas e sonhando em ir de novo e todo ano ao Hawaii.

Na Bahia nós temos na faixa dos 59 chegando nos 60 anos: Eu, Carlão Moraes, Fredão Tambon, Aderbal Babau entre outros. Mauricio Abubakir está vindo também e com 53 se joga muito.

Todos com muita energia ainda e quebrando nas ondas.

No Brasil, nós temos o Sr. Afonso Freitas, pai do longboarder Marcelo Freitas, que aos 85 ainda pegava onda, mais uma geração chegando nos 60 anos: Rico de Souza, John Wolthers, Zé Paioli, Kadu Moliterno, Ricardo Bocão entre outros.

O havaiano Clide Aikau hoje com 62 anos, ainda é convidado do Eddie Aikau e se joga, o Gerry Lopes está com 64 e ainda surfa.

Até quando vamos ter o Burle e o Danilo Couto – dois dos maiores big riders do planeta – em ação, pegando as grandes? Com certeza por muitos anos. Com toda a saúde e disposição que eles têm, podem facilmente chegar aos 80 anos surfando.

Então, qual será o limite? Ele não existe. Está em nossas mentes.

Woody Brown, aquele mesmo que estava com Dickie Cross quando Sunset começou a fechar e eles resolveram sair por Waimea três quilômetros praia abaixo, culminando com a morte de Dickie Cross em 1943, continuou surfando até os 92 anos de idade.

E qual o segredo? Diz o patriarca do clã Paskowitz o Mr. Dorian Paskowitz que ele não sabe ao certo, mas que, para variar, todos os longevos no surf têm uma vida regrada: Peter Cole, Woody Brown, Ken Bradshaw etc. No caso especifico dele, diz que nunca gostou de bebedeiras, drogas, remédios, farras, etc, e que a partir dos 50 eliminou açúcar e manteiga.

Aí, perguntaram a ele qual a graça de viver desse jeito? Ele respondeu de bate pronto e com muita sabedoria: “Muito surf e muito sexo, pois sempre fui muito bem casado, graças a Deus, e com a saúde que tenho compareço quase todos os dias”.

Detalhe, ele respondeu a essa entrevista aos 85 anos, enquanto se preparava para uma corrida de canoas havaianas em Waikiki, no Hawaii. Em minha modesta opinião, e vou aqui acrescentar: O surf ajuda muito também a manter-nos saudáveis e jovens, tanto física quanto espiritualmente. Então, viva o surf!

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